Este número da Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio aborda questões ligadas a políticas públicas que de alguma forma afetam o ensino de Biologia, o que nos parece muito pertinente nesses tempos em que a conjuntura política do país se mostra carregada de tensões e incertezas.
A última década nos trouxe um cenário de intensas mudanças, tanto na formação docente como nas políticas voltadas para a Educação Básica. A partir das Diretrizes Curriculares Nacionais de 2002 e da adoção, por muitas instituições formadoras de professores, do modelo de formação voltado para licenciaturas com identidade própria, houve um distanciamento do antigo modelo “3 + 1″ e novas políticas de formação docente foram se consolidando. Assistimos também, nesse período, a um processo de reestruturação e ampliação das universidades federais que promoveu a criação de novos cursos de licenciatura, cujos projetos político pedagógicos de algum modo já refletiam as mudanças no cenário da formação docente.
Paralelamente, tivemos em 2013 a publicação de novas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica que trouxeram, além das Diretrizes Gerais para a Educação Básica, documentos específicos para diferentes contextos e temáticas, como as diretrizes para Educação no Campo, para Educação Indígena, ou as diretrizes para Educação em Direitos Humanos e as diretrizes para Educação Ambiental. Nas escolas, a presença do PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – a partir de 2008 também impactou a formação docente, com efeitos percebidos em nível nacional como pudemos acompanhar, por exemplo, pela expressiva quantidade de trabalhos produzidos no contexto do Programa que foram apresentados nos últimos Encontros Nacionais de Ensino de Biologia.
Reunimos aqui seis artigos indicados pelas Diretorias Regionais da SBEnBio, que nos ajudam a refletir sobre algumas questões importantes nesse contexto. O artigo intitulado ” Documentos legais para formação profissional: é possível fazer emergir o professor de Ciências e Biologia?” de José Roberto Feitosa Silva, apresenta uma reflexão sobre a formação de professores de Ciências e Biologia, com base em documentos oficiais, do ponto de vista da formação de uma identidade para a docência em Biologia.
Já o artigo “Contribuições do PIBID para a formação política do professor de Ciências e Biologia”, de Pedro Henrique Parada Ferrari e Daniela Franco Carvalho, investiga as contribuições do PIBID – Biologia – da Universidade Federal de Uberlândia, para a formação política do professor.
No terceiro artigo, Néli Suzana Britto apresenta questões relacionadas à implantação de um curso de Educação do Campo, dialogando com questões, reflexões e ações ligadas à consolidação desse curso no contexto brasileiro das políticas públicas educacionais, sob o título de “Educação do Campo, área Ciências da Natureza e Ensino de Biologia: questões, reflexões e ações para docência na Educação Superior e Básica”. Trazemos também três artigos relacionados às políticas curriculares para a Educação Básica. Cláudia Valentina Assumpção Galian, em trabalho intitulado ” O debate sobre o currículo: para além da prescrição”, desenvolve uma análise da literatura que destaca a complexidade dos muitos agentes que atuam na construção social do currículo, situando no debate curricular alguns aspectos das funções da escola.
No artigo “Base Nacional Curricular Comum: elementos para o debate”, Maicon Azevedo apresenta elementos que possibilitam ampliar o debate sobre os novos caminhos para o Ensino Médio, propostos no contexto da discussão da base nacional curricular, tendo em vista uma reflexão que inclui aspectos das tradições curriculares.
Finalmente, no artigo “Reflexões sobre a produção da necessidade de uma Base Nacional Comum Curricular: diálogos com a História e as Políticas de Currículo”, Marcia Serra Ferreira socializa reflexões feitas em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fomentadas por debates conjuntos, ocorridos no ano de 2015, em grupos de pesquisa e nas disciplinas em que atua. Aponta, em seu trabalho, a centralidade que a área de conhecimento assume na formulação de um texto que se pretende comum e nacional, lançando questionamentos sobre os significados em disputa nesse processo.
Desejamos uma boa leitura e anunciamos que em breve a Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio deverá inaugurar um novo formato, recebendo submissões de trabalhos em sistema de fluxo contínuo e ampliando a participação da comunidade em sua construção.
José Artur B. Fernandes
Editor
Download: REnBio 8ª edição